segunda-feira, 20 de abril de 2009

O Espiritismo como uma Proposta de Vida

Em “A Gênese” (1), cap. XVIII, ‘Sinais dos tempos’, somos informados de que o progresso intelectual marca a primeira fase da humanidade, mas só o progresso moral pode assegurar a verdadeira felicidade humana.

Já em “O Livro dos Espíritos” (2), questão 780 consta que este é conseqüência daquele pela compreensão do Bem e do Mal, mas nem sempre o acompanha e na 791 que, em sua falta, há somente uma civilização incompleta, com homens apenas esclarecidos.

Com o intelecto desenvolve-se a capacidade de discernimento e a autodeterminação nas escolhas pelo livre-arbítrio e reclama responsabilidade. Resultado: menos egoísmo e orgulho, hábitos mais moralizados, mais liberdade para a inteligência, mais bondade, menos preconceitos e leis sem privilégios, mais justiça e amparo do fraco contra o forte.

A vida, as crenças e opiniões são mais respeitadas e menor o número de infelizes.

Na ‘Conclusão’ de OLE, item V, nos deparamos com os três períodos do Espiritismo: curiosidade, raciocínio e filosofia e aplicação de suas conseqüências.

A sua essência íntima toca o ponto mais sensível do homem: sua felicidade, mesmo neste mundo... (grifo nosso). No item seguinte, complementa que Sua força está na sua filosofia, no apelo à razão e ao bom senso.

O conhecimento espírita bem compreendido leva à prática, diminuindo as imperfeições de caráter e conduta cuja melhoria se fará sentir pela diminuição das faltas morais, o que culminará com um grau mais elevado de felicidade.

No item VII, refere-se aos três tipos de espíritas: os que conhecem os princípios de suas manifestações (ciência); os que conhecem os princípios filosóficos e suas conseqüências morais e os que praticam ou se esforçam para praticar essa moral.

Lê-se na Q. 789 da mesma obra que a humanidade progride pelos indivíduos que se aperfeiçoam aos poucos e se impõem pelo número, liderando movimentos que provocam as transformações nas leis e nos costumes, embora (“Obras Póstumas” (3), ‘Credo Espírita’) elas sejam insuficientes para assegurar a felicidade dos homens porque coíbem as más paixões, sem destruí-las... são mais repressoras do que moralizadoras... Ou seja, não são educativas, daí que não transformam.

As Q. 795 e 797 ratificam que a lei humana é variável e progressiva e tende a refletir as leis naturais ou divinas. A mudança daquela, para se tornar mais justa, vem pela força das coisas e influência das pessoas de bem e a 784 nos lembra que é preciso o excesso do mal para se compreender a necessidade do bem e das reformas.

A Terra está em fase de transição. O Espiritismo oferece uma PROPOSTA de vida.

Mas por que uma proposta?

Porque, embora o codificador estivesse totalmente convencido das qualidades das idéias espíritas como elemento transformador da sociedade, nem ele muito menos os Mentores imaginaram o Espiritismo como único a prevalecer no mundo, seja no aspecto filosófico, científico ou religioso, mas tão-somente como um código moral.

Ainda em OP (4), ‘Regeneração da humanidade’, uma comunicação mediúnica salienta que o Espiritismo tornar-se-á a base de todas as crenças (grifo nosso), o ponto de apoio de todas as instituições... senda que conduz à renovação porque destrói os seus maiores obstáculos: a incredulidade e o fanatismo e a Q. 798 de OLE reafirma que O Espiritismo se tornará uma crença popular.

Note-se que não se utiliza de adjetivos como universal, único, etc.

A alteridade é o cultivo do respeito incondicional ao outro, à sua pessoa, modo de pensar, sentir e agir no mundo, sem mantê-lo à distância, na indiferença em atitude excludente.

O processo de alteridade prevê o estabelecimento do diálogo e a busca de aprender com o outro. Ouvir, respeitar, entender, sem necessariamente aceitar tudo.

É saber conviver com a diversidade sem querer impor a nossa opinião.

Ainda citando a obra basilar do Espiritismo, na Q.768, constatamos a necessidade da vida em sociedade, quando os Espíritos dizem que o homem não progride só porque não possui todas as faculdades e precisa do contato dos outros homens.

O economista Stephen Kanitz, colunista da Revista Veja (5), comenta a exortação de João quanto ao “Amai-vos uns aos outros” e conclui que a meta está superestimada para o atual estágio da humanidade. “Respeitai-vos”, segundo ele, já seria um grande passo. Respeitar nossas diferenças, culturas, religiões.

Este pensamento de alteridade está presente também em OLE, Q.628: (...) para o estudioso, não há nenhum sistema filosófico antigo, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar porque todos contêm os germes das grandes verdades. E em OP (‘Breve resposta aos detratores’), acrescenta: (...) Não procura demover ninguém de suas convicções religiosas.

Não se dirige àqueles que possuem uma fé que os satisfaça, mas àqueles que não estando satisfeitos... procuram algo melhor.

Voltando à Gênese (7), cap. XVIII, item 25, somos esclarecidos que Não é o Espiritismo que cria a renovação social, é a maturidade da humanidade que faz de tal renovação uma necessidade.

O Espiritismo bem compreendido e sentido, forçosamente resulta no homem de bem, acrescenta Kardec em outro trecho, mas não há pretensão de ser o único a conseguir isso.

E na Q.932 (OLE): está dito que os maus, com freqüência, sobrepujam os bons em influência.

Devido à fraqueza dos bons, pois enquanto aqueles são intrigantes e audaciosos, estes são tímidos. Consoante (OP , 8, ‘Projeto 1868’), dois elementos devem concorrer para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico e os meios de popularizá-lo.

Uma teoria que não renega seu aspecto científico, que evolui, feito por um movimento atento às constantes mudanças da sociedade e aberto à sua discussão.

Que estuda, analisa, debate os problemas cotidianos (a Bioética, p. ex.). Isto porque (OP, 9) por sua própria essência que o Espiritismo toca em todos os ramos dos conhecimentos físicos, metafísicos e da moral.

A popularização da Doutrina de que fala Kardec é justamente a abertura de seu movimento para o social.
É o oferecimento de sua PROPOSTA de vida, sem imposição ou pretensões de dona da verdade, mas sem receios e preconceitos infundados no trato de sua divulgação.

Ainda no ‘Projeto 1868’, de OP, 10, Kardec antecipa que Uma publicidade em larga escala feita nos jornais de maior circulação, levaria ao mundo inteiro... o conhecimento das idéias espíritas...

Hoje nós temos o rádio, a Tv e a fabulosa internet.
Temos o livro (Feiras, Clubes, Bancas, Livrarias e Bibliotecas), temos os DVDs, as artes, os seminários e congressos e temos os jornais e revistas que precisam ser mais apoiados. E temos nosso exemplo.

A PROPOSTA DE VIDA
que o Espiritismo oferece tem por base o esclarecimento e a lei de amor, justiça e caridade.

Passa pela mídia eletrônica, pelas atividades das instituições espíritas, campanhas de orientação em escolas e universidades, pela ação corajosa no meio social em que esteja inserido e passa necessariamente pela EDUCAÇÃO e pelo exemplo.

Para atendermos a exortação do Cristo do “Ide e pregai” e a de Erasto (ESSE, 11, cap. XX) e nos tornarmos Paulos de Tarso modernos, não precisamos ser perfeitos, mas abrir luta contra as imperfeições, promover a constante reforma íntima, educar sentimentos e, sem desculpismos ou esmorecimentos, contribuir com o que já possuímos e sabemos para a sociedade.

A educação implícita na PROPOSTA DE VIDA do Espiritismo (OLE, Q. 917) não é a que faz homens instruídos, mas homens de bem; (Q.685) é a arte de formar caracteres pelo conjunto de hábitos adquiridos porque OP, 12, ‘Credo Espírita’) só ela, mais que a instrução, transformará a humanidade.

A PROPOSTA DE VIDA
do Espiritismo, se aceita, atacará as causas dos males, no seu nascedouro e não apenas os efeitos.

Violência, falência familiar, enfermidades, injustiças sociais, corrupção, drogas, para serem combatidos precisam mais do que bons governos, investimentos em segurança pública, novas tecnologias e medicamentos ou esforços isolados para atenuar a miséria e a exclusão social.

Há que se desmontar o império do egoísmo, do orgulho e da ignorância, as grandes chagas morais da humanidade.

O trabalho de formiguinha é válido, mas insuficiente num mundo de rápidas e estonteantes transformações. Para se erguer o grande edifício da felicidade já não basta somar o grão de areia individual, mas unir nosso tijolo pela argamassa da fraternidade.

É preciso que a vida futura... (OP, (13) seja tão positiva quanto a vida presente da qual é continuação... que a percebam e compreendam que, por assim dizer, a toquem com as mãos.

Estamos convictos de que se nossos políticos, empresários, administradores públicos, educadores e todos os indivíduos com forte poder de influência e ação social, tomassem contato pleno com certos princípios espíritas, muita coisa poderia mudar a curto e médio prazos. Informações claras e objetivas sobre Deus, imortalidade da alma, reencarnação e lei de causa e efeito orientariam suas condutas pela ética e sentimento de respeito aos semelhantes.

Mais que reconhecer o Criador em seus atributos e antever de modo concreto o seu futuro eterno de vida plena, saberiam que, pelas vidas sucessivas, na dimensão espiritual ou aqui, inexoravelmente, são e serão os únicos herdeiros de si mesmos.

Nossa PROPOSTA DE VIDA precisa de formulação de estratégias como um produto, embalado na ética de alteridade de respeito a tudo e a todos. Precisa ser “palatável”, na dose e linguagem certas.

Tem que estar acessível, bem distribuída, sem banalização que corrompa sua essência. Precisa do apoio de marketing, usar das novas tecnologias e canais, segmentar o mercado e públicos-alvo.

Por exemplo:
Qual o tipo de informação é requerida ali?
Em que profundidade?
Quais os melhores momentos?
Qual o custo/benefício de se divulgar assim e ali e não de outra forma e em outro lugar?

Tudo isso vai muito além do improviso e da boa vontade.
Inseridos no contexto cristão, somos o sal da terra, o levedo das massas, os bons semeadores da paz, do amor e da fraternidade.

A PROPOSTA DE VIDA
do Espiritismo flui para a sociedade através daqueles que já o conhecem e adotam.
Estendem a PROPOSTA que já aceitaram para si mesmos.

Cumprem sua missão de espíritas que é, portanto, tornarem-se... espíritas, verdadeiros, cristãos, capazes de serem reconhecidos por muito se amarem como afirmou Jesus ou pelo combate determinado, permanente às suas más tendências e busca da sua reforma moral como disse Kardec, o que dá no mesmo. Homens fraternos, homens de bem, capazes de exemplificar a valorização superior do ser moral, espiritual, divino do homem renovado, ao ter material, iludido e egoísta do homem velho.

Homens capazes de vencerem a si mesmos para vencerem no mundo e melhorar o mundo.

Wilson Czerski
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Wilson Czerski é militar aposentado.

Escritor, articulista, apresenta programas espíritas no rádio e na Tv.

Membro-fundador e ex-presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná.

Atualmente é o editor do “ADE-PR Informativo” e

diretor de Parcerias entre as ADEs da Abrade.

Apoia a divulgação espírita no JAPÃO
em parceria com a ADE-JAPÃO


Referências Bibliográficas:
(1) A Gênese, Allan Kardec, 1868, trad. Victor Tollendal Pacheco – Edit. Lake, 1981, pg. 354.(2) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 1857, trad. Herculano Pires – Edit. Lake, 1975.(3) Obras Póstumas, Allan Kardec, 1890, trad. Sylvia Mele Pereira da Silva – Edit. Lake, 1979, pg. 320.(4) Idem, ibdem, pg. 273.(5) Veja (Revista), nº 1784, 08/01/03 – Edit. Abril – SP.(6) Obras Póstumas, pg. 213.(7) A Gênese, pg. 357.(8) Obras Póstumas, pg. 284.(9) Idem, pg. 325.(10) Idem, pg. 287.(11) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, 1863, trad. Salvador Gentile. Edit. Ide – Araras – SP.(12) Obras Póstumas, pg. 321.(13) Idem, pg. 324.

Fonte: Revista Internacional de Espiritismo – Out/2005


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